sexta-feira, 30 de março de 2007

GRANDE ECRÃ - Pride and Prejudice


Fiel à obra de Jane Austen, Pride and Prejudice é, sem dúvida, dos filmes mais bonitos e luminosos que tenho visto.


quinta-feira, 29 de março de 2007

PIXEIS - Angra

Mariana Almeida


domingo, 25 de março de 2007

DIAS - Europa: Bodas de Ouro

O texto que se segue, de Fernando Madrinha, saiu no Courrier Internacional, de 23 a 29 de Março de 2007, - Editorial.


Dar tempo ao tempo

Meio século de paz, num século com duas guerras mundiais. Várias democracias conquistadas numa época em que elas abundavam. Melhor distribuição da riqueza, não só em cada um dos Estados-membros, mas também entre países muito diferentes e com diferentes níveis de desenvolvimento. Um mercado único com livre movimentação de trabalhadores e de mercadorias e até uma moeda própria que já circula em 13 países, devendo ser, aos poucos, adoptada por todos. Uma organizaçao que começou por ser um clube de ricos, com apenas seis "sócios" - Alemanha, Bélgica, França, Itália, Luxemburgo e Holanda - e que desde 1 de Janeiro tem 27 menbros, todos dispostos a abdicarem um pouco da sua soberania e a partilhá-la, em múltiplos aspectos, para benefício comum. Eis os factos e feitos principais da União Europeia, cujo aniversário se celebra no Domingo (25 de Março). Assim como há pessoas que têm uma idade real diferente da que consta no Registo Civil, também a UE pode invocar duas datas de nascimento. A primeira "comunidade europeia" foi a do Carvão e do Aço. Remonta a 1951, quando, por inspiração dos mesmos visionários a que hoje chamamos "pais da Europa" (Robert Schuman e Jean Monnet), a França, a Alemanha e a Itália aceitaram integrar as respectivas indústrias do carvão e do aço. Eram, ao tempo, indústrias fundamentais, tanto para promover o desenvolvimento, como para fazer a guerra, conforme as opções políticas. Esse primeiro passo foi dado, não por acaso, por três dos protagonistas principais da Segunda Guerra Mundial. O medo da guerra, ainda muito presente na memória colectiva, foi a primeira aplicação prática do conceito original da União Europeia e do segredo do seu sucesso: a partilha de soberania para prevenir e evitar conflitos de interesses, ou para os resolver através do diálogo. O Tratado de Roma, cujos 50 anos agora se celebram, mantém essa preocupação de base em relação à paz. Tanto que, na verdade, foram os dois e não um os tratados assinados na capital italiana nesse mesmo dia 25 de Março de 1957: o que instituiu a Comunidade Económica Europeia (CEE) e o que criou a Comunidade Europeia da Energia Atómica, ou Euratom. Paz e desenvolvimento harmonioso - não apenas o mercado - sempre foram, portanto, os dois vectores essenciais do "sonho europeu". E para que esses objectivos essenciais nunca sejam perdidos de vista, os passos da União devem ser lentos, desde que seguros. Basta registar que o próprio tratado da fundação da CEE previa a entrada em vigor do mercado interno no ano seguinte, em 1958, e que esse mercado só veio a ser criado em... 1992. Isto quer dizerque a pressa dos europeístas mais fervorosos e dos eurocratas mais impositivos sempre foi moderada pela realidade social, económica e política do conjunto dos países e, directa ou indirectamente, pela vontade dos povos. Ainda que bem intensionada, essa pressa não é boa conselheira porque os consensos e as condições propícias para certos passos levam tempo a ser criados. Por isso, na data em que a Comunidade faz 50 anos e já se chama União, não há que lamentar, como provavelmente muitos farão, o facto dos franceses e os holandeses terem travado a Constituição. Afinal, a União tem funcionado sem ela. E ainda há duas semanas, no Conselho Europeu que aprovou os grandes objectivos em matéria climática, tivemos a prova de que pode funcionar bem. Um tratado constitucional facilitaria a governação? Sem dúvida. Mas oo mais certo é que dificultasse o entendimento. Por isso, o mais sensato e razoável é ir dando tempo ao tempo.

quarta-feira, 21 de março de 2007

POÉTICA - Dia Mundial da Poesia (e afins)

A Poesia não devia precisar de um dia para ser celebrada.
Porém, já que este dia lhe está consagrado, vou tratar de a homenagear com este post.
(Aproveito e estreio a rubrica dedicada à poesia.)



SER POETA

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de ouro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!

Florbela Espanca

Imagem - Florbela, de Francisco Simões (Parque dos Poetas)

sábado, 17 de março de 2007

COM TEXTO - Viver a (im)prudente aprendizagem de vencer o tempo


- Aquele que não vive agora, nunca mais vive. Que fazes tu? (1)

- Vivo! É imperativo. É uma aprendizagem árdua, perigosa, mas premente se se deseja fruir o tempo disponível, que começa sem pedirmos e termina sem querermos. Não há outro tempo que não este, o nosso, e é efémero.

Viver, acto de passar na Vida, é tudo o que dela e nela fazemos: e aí il faut être prudent, mais non pas timide (2). Prudência, não timidez! A prudência implica actividade, a timidez, hesitação. Mas há dor, a dor faz-nos temer até a própria dor! Este temor, quando atinge o terror, origina casos como o de Ricardo Reis, que teme o sofrimento acima de tudo; as suas aspirações à Felicidade cingem-se a uma existência totalmente indolor, mesmo que isso implique passar pela Vida como uma sombra espectadora, desgarrada. Ao esbarrar na Morte incontornável, na vida que “passa e não fica, nada deixa e nunca regressa”, abdica de tudo para não sofrer.

A inevitabilidade do Fado deixa-o prostrado, pois “quer gozemos quer não gozemos, passamos como um rio” e “mais vale saber passar silenciosamente / e sem desassossegos grandes”. Torna-se uma personagem ressentida, afligida pela efemeridade da vida. Assim, dado o seu paganismo, refugia-se no epicurismo almiscarado por um certo estoicismo, assim como em Horácio. Se nós, seres vulgares, procuramos a Felicidade na concretização prática, para os epicuristas, o prazer resume-se a uma completa ausência de dor, qualquer outro prazer é o começo e o fim da existência feliz (3). Reis opta, então, pelos prazeres estáticos, ditos superiores. É uma resposta aos seus tormentos, uma oferta de repouso e ataraxia.

É necessária ousadia ou resignação total (4). Não concordam que é mais prudente, mais fácil, ser-se audaz do que inteiramente resignado? Não vos parece mais viril? Não admitem que “aprender a vencer o tempo” é sinónimo de viver, viver de facto?

Poupar o coração é permitir à morte coroar-se de alegria (5), é morrer um pouco a cada dia.

_____________

(1) – Piet-Hein

(2) – Voltaire

(3) – Epicuro

(4) – Tito-Lívio

(5) – Eugénio de Andrade

Texto de reflexão - Português

quarta-feira, 14 de março de 2007

AVULSO - Rosas



"Prefiro rosas, meu amor, à Pátria"

Ricardo Reis - Odes


Entenda-se por "Pátria" os testes de História.

Enchamo-nos de patriotismo para a prova de amanhã...


Photo by me

domingo, 11 de março de 2007

COM TEXTO - Festival Pimba


Passava ligeiramente das 11 da noite. Deu-me uma "fúria" e escrevi.

Acabou de ser transmitido, em directo, o Festival da Canção 2007. É de conhecimento geral que a participação de Portugal no grande Festival da Eurovisão tem deixado muito a desejar de há uns anos para cá – performances sem garra ou brio, sem Q(ualidade) necessários para brilhar na Gala internacional da música. Portugal tem sido facilmente eliminado na primeira volta, sem apelo nem agravo. Não convence.

A meu ver, o nosso portugalzinho acaba de eleger, como a sua “melhor” canção, uma autêntica pimbalhada, produzida, aliás, por um dos grandes pimbas portugueses, Emanuel. Pois bem, consta que a pupila encantou Portugal com os seus cabelos loiros, belas pernas e vestido aos folhos. Assim, “Dança Comigo” é a canção que representará Portugal no Festival 2007, a realizar brevemente em Helsínquia.

Deixar a escolha nas mãos do público é um risco evidente neste país. Mas dá o lucro necessário à televisão. Os tais 60 cêntimos + IVA. E dá nisto.

As canções, no geral, não eram boas, a verdade é essa. Desde uma combinação (atroz) de fado com hip hop, ao pimba (que venceu). Uma das canções, a terceira, era engraçada, “Ai pode”, um trocadinho com I pod. Tinha um ritmo e letra engraçados, mas francamente o seu lugar não era no Festival da Canção. Os melhores desempenhos foram preteridos pelo público, atingindo apenas uns lamentáveis 2º e 3º lugares.

E agora pergunto: como é que é possível? Uma mulher linda, com uma voz fantástica e provas dadas, que canta de tudo e bem, ao vivo, no programa da RTP, que ironia, Dança Comigo, foi trocada por uma canção frívola, sem o mínimo de originalidade ou qualidade musical. Falo da Teresa Radamanto, que concorreu com a canção n.º 8 “Ai de que nunca cantou”, letra de João Baião. Foi dela o melhor desempenho da noite.

Por favor, alguém me explique como, ao lado de grandes vozes como Simone de Oliveira, Paulo de Carvalho, Carlos Paião, Anabela, Dulce Pontes, podem alinhar “artistas” como esta Sabrina? É tão incongruente. Que falta de classe, minha gente!

Acho mesmo que ao Portugal dos Pequeninos se veio juntar o Portugal dos Pobrezinhos (de espírito).

quarta-feira, 7 de março de 2007

BIBLIOGRAFIAS - Salto Mortal


Salto Mortal, de Marion Zimmer Bradley, é um grande livro, na total extensão semântica do termo. A sua intriga, dividida entre as décadas de 40 e 50 do século XX, não permanece inteiramente alheia à Grande Guerra. A obra é, toda ela, perpassada pelo fascínio que o trapézio exerce, por tudo o que implica voar ou cair.

A autora, conhecida pelas suas obras voltadas para a mística celta ou para a ficção científica, desta vez, narra-nos algo bem diferente: A história de uma família de trapezistas italianos da antiga “aristocracia do Circo”, agora itinerante nos Estados Unidos da América – os Santellis.

Como na quase totalidade das famílias numerosas, as relações entre os respectivos membros tornam-se controversas, levantam-se tabus, mas, neste caso particular, a tudo isto se sobrepõe o aparelho de trapézio; tudo lhe está subordinado – o clã, o estrelato, a vida, a morte, a Fortuna (boa ou má).

Das gerações de Santellis conhecidas, destaca-se a figura de Mário, o elemento mais novo, mais volúvel, mais brilhante do número Santellis Voadores. Mário consagra a vida à tarefa de provar que, para si, não existem impossíveis; submete-se a incontáveis quedas para alcançar a perfeição no triplo salto para as mãos do seu base. Este é o salto mortale, até então visto como uma impossibilidade física, recente e acidentalmente produzido por um trapezista que, depois de o ter feito, jamais voou. Para Mário, este não é apenas um exercício arrojado – o “salto fatal” é o “salto do destino”.

A adopção de Tommy Zane, um jovem rapaz do circo, constitui uma total excepção à tradição familiar. É Mário quem traz à luz o que de melhor Tommy tem dentro de si, tempera-o através de um trabalho exaustivo e da observância contínua do código estabelecido: Aconteça o que acontecer, haja o que houver, “os Santellis estão sempre prontos”, sem que nada de pessoal seja levado para a plataforma do aparelho.

Ambos os protagonistas, cientes de não poderem dar as quedas um do outro, envolvem-se numa luta conjunta pelo aperfeiçoamento da arte do trapézio clássico, numa história de amor entre um rapaz e um homem, numa contenda contra as pressões e adversidades, numa aprendizagem de como lidar consigo e com os outros. Juntos brilham na pista central do maior espectáculo. Separadas condenam-se à mediocridade e ao anonimato.

No discorrer da narrativa, com o desenvolvimento das personagens e das suas relações, dá-se a descoberta e a aceitação da homossexualidade que se vê exposta num ângulo inusitado – “vista por dentro”.

A maturação, a construção do percurso dos dois indivíduos, cujo amor os alia num laço que se recusa a ser desmanchado quer pelo espaço quer pelo tempo, comporta em si uma dimensão tão peculiar quanto reveladora à qual o leitor não pode permanecer indiferente.

sexta-feira, 2 de março de 2007

COM TEXTO - O Carnaval continua com as crianças

A verdade é que os mais novos guardam o futuro nas mãos. Assim, também o Carnaval continua com as crianças.

Já entrámos na Quaresma; festejos de Entrudo só para o ano que, depois deste, virá.

É certo e sabido que os terceirenses vivem intensamente o Carnaval, com as suas tradições tão vivas quanto peculiares. Ainda se agendam novas actuações dos Bailinhos pelas freguesias (um bis para quem não conseguiu ver tudo), ainda se comentam os enredos mais engraçados, ainda se pensa no Carnaval que passou! É igualmente verdade tudo isto. Todavia o mote deste texto é um simples episódio que me encheu de graça.

Na hora de almoço, passei junto à escola primária da Conceição, onde, pelas minhas contas, os meninos e meninas já deviam estar todos nas suas salas a debitar esmeradamente o alfabeto e a tabuada. Porém, um grupo de cerca de dez crianças permanecia no pátio compenetradíssimo na sua brincadeira, muito realista, para que conste!

Então os catraios estavam em plena actuação de um Bailinho de Carnaval, cujos puxadores até pandeiro tinham! Formavam duas alas, marchavam, um menino fazia a marcação com o instrumento, uma menina cantava a saudação para quem ali passasse, oferecendo um gesto largo de cumprimento. E parece-me que continuariam no “palco” do recreio não fosse ter começado a chover e o trabalho chamar.

Agora digam-me: como pode uma tradição destas definhar e morrer, se crianças aprendem, desde tão cedo, a apreciar o que também é deles?