quarta-feira, 12 de setembro de 2007

COM TEXTO - Um café frio

Hoje é Setembro, não apenas por o ditar o Calendário.

Chove desde manhã, e se pára, a humidade torna-se uma presença quase palpável.

Acordei um pouco tarde, ao contrário do meu irmão, excitadíssimo com o seu primeiro dia de escola, no 8º ano. Eram 8.30 e ainda hesitava em afastar os lençóis, isto para ter aula de condução dali a trinta minutos... O pequeno-almoço ficou esquecido.

Afinal, quem se atrasou, não fui eu. Esperei pelo carro da instrução no parque fronteiriço à Secundária. Fiquei parada a observar de longe a agitação normal de um “primeiro dia de aulas”. Atingiu-me a plena consciência de que, oficialmente, já não tenho um lugar ali – cumpri o 12º (com êxito) e já estou matriculada no ensino superior. Mas ainda assim… aquela é a minha (Padre) Jerónimo! Sim, eu sei, estou a ter um ataque agudo de saudosismo. Lamento, não o posso evitar, nem me desculpo por me sentir assim. A anunciada "nova fase" virá a seu tempo.

De momento, brindo um sorriso aos bons anos que lá passei, à minha querida turma do Secundário, aos meus professores que se lembram sempre de mim!

Os meus pais são docentes há cerca de 20 anos; cresci ligada àquele Liceu: dos funcionários mais velhos, qual aquele que não me trouxe ao colo, ou o professor do Quadro que não sabe o meu nome. Daí que não saia de lá com a ficha ENES e simplesmente feliz por arrumar as pastas.

Sei de quem me poderá falar das deficiências de organização, da descoordenação, do número excessivo de alunos por turma, da falta de salas de aula, dos experimentalismos contraproducentes e anti-pedagógicos. Eu sei disso e sou obrigada a concordar. O ser sentimental não me torna cega às evidências.

De permeio, posso dizer que tirei algum prazer da condução, isto se não falar de um peão desmiolado que se me atravessou na frente do carro, fazendo-me travar a fundo sobre a calçada encharcada, para não lhe passar por cima.

Chego a casa, maldizendo esta humidade terrível. Subo ao quarto para ligar o computador, volto a descer para preparar o pequeno-almoço adiado, e torno a subir para me sentar à secretária, já com o msn ligado. Beberico uma chávena de café, esperando por uma companhia agradável e amiga que me desenevoe os pensamentos.

Comecei a escrever, depois de uns bons momentos de conversa, apenas perturbada por um ensurdecedor martelo pneumático na casa do lado.

Agora, a net não quer nada comigo, amuou, e o café arrefeceu completamente – o pouco que ficou na chávena está frio. E a chuva fustiga a janela ao meu lado. Para lá dela, não se vê se não em matizes de cinzento.

“Não, avó, não quero almoçar ainda. Acabei de comer, obrigada.”

Volto a tentar acordar a minha net, sem sucesso.

Revejo o texto e volto a tentar – ligou! Devagar, devagarinho… a página abriu.

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