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- Aquele que não vive agora, nunca mais vive. Que fazes tu? (1)
- Vivo! É imperativo. É uma aprendizagem árdua, perigosa, mas premente se se deseja fruir o tempo disponível, que começa sem pedirmos e termina sem querermos. Não há outro tempo que não este, o nosso, e é efémero.
Viver, acto de passar na Vida, é tudo o que dela e nela fazemos: e aí il faut être prudent, mais non pas timide (2). Prudência, não timidez! A prudência implica actividade, a timidez, hesitação. Mas há dor, a dor faz-nos temer até a própria dor! Este temor, quando atinge o terror, origina casos como o de Ricardo Reis, que teme o sofrimento acima de tudo; as suas aspirações à Felicidade cingem-se a uma existência totalmente indolor, mesmo que isso implique passar pela Vida como uma sombra espectadora, desgarrada. Ao esbarrar na Morte incontornável, na vida que “passa e não fica, nada deixa e nunca regressa”, abdica de tudo para não sofrer.
A inevitabilidade do Fado deixa-o prostrado, pois “quer gozemos quer não gozemos, passamos como um rio” e “mais vale saber passar silenciosamente / e sem desassossegos grandes”. Torna-se uma personagem ressentida, afligida pela efemeridade da vida. Assim, dado o seu paganismo, refugia-se no epicurismo almiscarado por um certo estoicismo, assim como
É necessária ousadia ou resignação total (4). Não concordam que é mais prudente, mais fácil, ser-se audaz do que inteiramente resignado? Não vos parece mais viril? Não admitem que “aprender a vencer o tempo” é sinónimo de viver, viver de facto?
Poupar o coração é permitir à morte coroar-se de alegria (5), é morrer um pouco a cada dia.
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(1) – Piet-Hein
(2) – Voltaire
(3) – Epicuro
(4) – Tito-Lívio
(5) – Eugénio de Andrade
Texto de reflexão - Português
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